Press release

um herbário de plantas por nascer

O que leva uma planta a ser tida como invasora?

Quem é que se acha no poder de a definir como tal?

E de que forma esta plante invade, com que propósito?

Que pecados tem ela de cometer para merecer tal categoria?

 

Já para não falar da forma pela qual as invasoras são vistas pelas endémicas…

Terão nomes que a elas atribuem como forma de escárnio e maldizer? Serão estes nomes palavras proibidas entre emaranhados de raízes? Haverá, sequer, tais relações de poder debaixo dos nossos pés?

Num mundo onde já não há quem lhes pise os caules, as plantas riem-se de tais especulações… no seu eterno sossego.

um herbário de plantas por nascer, a quarta exposição individual de Margarida Andrade e a primeira na Galeria Fonseca Macedo, vem dar continuidade à sua investigação sobre a relação entre os seres humanos e as plantas, iniciada no momento de criação do seu livro, A Décima Ilha, lançado em setembro de 2022.

Nesta exposição em particular, Margarida foca a sua atenção na forma pela qual nós, humanos, decidimos classificar as plantas, distribuindo-as por categorias de acordo com a sua origem e local de residência.

Através desta análise, a artista volta a refletir sobre o lugar que o ser humano ocupa no Planeta, desmistificando a posição superior que, por vezes, este parece crer ter. Margarida Andrade convida-nos, novamente, a imaginar um futuro longínquo onde as plantas contrariam os estatutos outrora a elas atribuídos pelos humanos, ridicularizando estes termos pelas limitações que representam.

Já distantes das tentativas falhadas de domínio dos humanos antropocentristas, estas plantas que ainda não nasceram levam Margarida a levantar, ainda, outra questão relacionada com a posição que as pessoas migrantes ocupam na sociedade. A artista cria, por isso, um paralelismo entre o binarismo invasoraendémica e os binarismos associados aos migrantes, incentivando à reflexão sobre as questões que o seu estatuto e processo de acolhimento levantam.

Ainda assim, apesar da tentativa da artista de propor uma perspetiva alternativa à antropocêntrica, o título desta exposição, ao incluir o conceito de herbário – outra ferramenta criada pelos humanos – vem mostrar a dificuldade que esta proposta representa.

No final de contas, a experiência de nos colocarmos no lugar das plantas com o intuito de entender os seus anseios, de ler os seus pensamentos, nunca deixará de ser apenas isso: uma experiência.