“Família Feliz” e mais umas coisas.

Patricia Garrido (Lisboa, 1963) iniciou a sua carreira nos anos 80 e o seu trabalho tem-se referido sistematicamente a memórias reais ou ficcionadas da sua própria vida e que se podem materializar plasticamente por jogos intelectuais visionais e emocionais, dando lugar à invenção de formas quase labirínticas que nos aproximam de supostos ou mesmo verdadeiros exercícios geometrico-matemáticos. Se ao desenho é deixada a maior parte da clareza possível do seu discurso, a pintura transmite-nos a sua inquietação através da densidade material e da sua obscuridade cromática.

Nesta exposição, somos em permanência remetidos para o quase insolúvel enigma: o que é pintura é desenho, o que é desenho é pintura. A ironia, sempre tão presente no corpo da obra de Patrícia Garrido, é aqui uma vez mais incorporada, agora, no próprio título da exposição, adensando no plano conceptual esse enigma, apenas aparente, e que nos deixa, por fim, o peso das decisões quanto às chaves para o entendimento da obra.